quarta-feira, 2 de março de 2011

A sopa socialista-Clara Ferreira Alves


...Do que se passa dentro do Governo pouco sabemos, as movimentações, as autorizações de desautorizações, os tropismos e malabarismos. Fulano agiu de modo próprio ou foi mandado? Sicrano falou sozinho ou foi autorizado? Do que se passa na cabeça de Sócrates sabem Sócrates e um pequeníssimo círculo íntimo,que age e reage em função da forte personalidade do chefe. Do que se passa no governo devíamos saber mais,a não ser que o governo para saber de si tenha de ler os jornais e ver as televisões. Tudo, rigorosamente tudo, passa pelo filtro da vontade de Sócrates, desde as negociações rompidas da Galp com a Petrobras à venda da dívida soberana. Desde a falhada candidatura presidencial às conversações com a senhora Merkel.
Existe na sociedade portuguesa uma tradição de não fazer perguntas. O parlamento barafusta mas não tem o convencimento nem a peritagem nem a inteligência de fazer as perguntas.Ou seja: o que anda o governo a fazer com os nossos compromissos futuros, quando este governo deixar de ser Governo? Quais as condições que andamos a contratar com os parceiros como o Brasil, Angola,Venezuela,China, a caricata Líbia? Ou os Emirados? Que andamos a vender, como andamos a vender e como vamos pagar e ser pagos?
Sócrates estabeleceu uma opocidade que funciona por duas razões:anestesia do PS,cujo grupo parlamentar é uma câmara de eco,e paralisia do PSD,mais preocupado com o estabelecimento de uma liderança e um programa de governo do que em fazer oposição.Para o PSD é útil que Sócrates se desgaste lentamente no posto mas será útil para o país?
Sendo certo que Sócrates sucederá a Sócrates no PS,não temos sobre este PS nenhuma pista.Enquanto o PSD se organiza,convocando estados gerais e criando a sua alternativa de governo e de programa,o PS parece afogado num mar de inquietações de algibeira.Num momento histórico em que o partido tem de dizer,pragmática e filosoficamente,ao que vem,donde vem e para onde vai,ou seja,qual a sua proposta para resolver o problema de endividamento externo e deo desmantelamento do Estado Social que conhecemos,a sua proposta para conviver com as regras orçamentais europeias,assistimos ao marasmo contraposto ao voluntarismo de Sócrates.Sócrates seca o PS.O sucessor possível, António Costa,não tenciona imolar-se pelo fogo nem abandonar a Câmara.Os putativos candidatos nascen da indigência intelectual e política ou do claríssimo oportunismo.Sócrates brilha.
Não sabemos o que tenciona o PS fazer com o falido SNS e a sua dívida escondida, com as privatizações que se propõe fazer de empresas públicas rentáveis (ANA e CTT),com a dispendiosa RTP de dois canais,com a descapitalizada TAP que se para financiar carrega nos preços de transporte aéreo para países com Brasil e Angola,países com os quais, justamente, deveríamos ter ligações baratas para facilitar a circulação de ideias e pessoas.E o que tenciona fazer com a máquinas onerosas que consomem todo o orçamento de que dispõem, como o Ministério da Cultura. O Estado precisa de ser reformado,limpo,vassourado,aspirado,antes de ser extinto.Não temos dinheiro para pagar este Estado e os seus cúmulos e acumulações.O PSD quer extingui-lo.Que quer o PS? E que quer um chefe que não sabe trabalhar em equipa e despreza o confronto de ideias?
Pedro Passos Coelho começa a construir uma alternativa e se o PS pensa que pode vencer pelo discurso simplista Keynesiano ou pelo público elogio do papel do Estado e da "esquerda",think again.O PSD irá buscar ao centro um eleitorado que está farto de "esquemas".O que é que o PS tem a dizer a isto?Nada.Porque foi o PS que governou.Sócrates sucerderá a ele mesmo para ser derrotado.E o que sobrará é um partido anémico.....

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